A lei é para a diversidade, mas a regulamentação é para os iguais. Em uma família, assim como na sociedade, onde convivemos e participamos enquanto queremos, somos livres para aceitar ou não as regras estabelecidas por consenso. A convivência em harmonia depende de um conjunto de valores e normas flexíveis, que respeitem as individualidades – credo, cor, raça, religião, condições econômicas, status social, idade e gênero.
Um pai ou uma mãe de família sabe que, mais do que regras rígidas, o que mantém o equilíbrio é o respeito mútuo e a liberdade para expressar opiniões sem impor o próprio ponto de vista. A troca de ideias deve promover o crescimento de todos, e não ser uma oportunidade de diminuir o outro, de cima de uma posição de superioridade.
Em casa, devemos usar o princípio da igualdade e da equidade: ser justos e dar oportunidades iguais para aqueles que, por suas circunstâncias, não estão no mesmo ponto de partida. Regras que parecem vazias ou sem sentido perdem valor quando não refletem um acordo verdadeiro entre todos. Da mesma forma, numa família, a vida só faz sentido quando há troca – o compartilhamento das responsabilidades e das alegrias.
O prazer de viver em harmonia é aceito quando respeitamos as normas estabelecidas coletivamente, de maneira justa e participativa. Se cada um seguir sua própria regra, nos afastamos do objetivo comum e criamos distâncias. Quando alguém busca autenticidade em suas ações, isso deve ser positivo, mas não pode se transformar em individualismo ou narcisismo. Ignorar o outro gera soluções que reduzem o valor da convivência.
A esperança em novas possibilidades deve ser um guia para a família. Não se trata de ingenuidade. Ser cético é fácil; difícil é acreditar em um futuro melhor e investir em novos caminhos. A construção de uma convivência moral e saudável é uma tarefa diária. Devemos tratar cada membro da família, cada ser, com respeito e dignidade. Mesmo os erros mais graves não definem a história de uma pessoa por completo. Sempre há tempo para uma metanoia – uma mudança de direção, um ajuste de atitude. Pedir desculpas sinceras e reinventar-se é o que nos faz crescer.
Por que, então, algumas regras não são respeitadas? Porque permitimos pequenos desvios éticos e morais ao longo do tempo. Isso pode até ser legal, mas não é certo. Para corrigir algo ruim, não podemos responder com outra ação errada. O filme "Os Intocáveis" retrata esse dilema: o agente Eliot Ness, para prender Al Capone, precisou respeitar a lei, pois prender o criminoso fora da legalidade o tornaria igual ao transgressor.
A convivência familiar, tal como a governança, deve ser baseada em normas aceitas por todos, em um ambiente que respeite as diferenças e, ao mesmo tempo, preserve valores sólidos. Nós, pais e mães, somos formadores de opinião e devemos dar o exemplo de como valores maiores que a individualidade podem guiar nossas decisões. Ser justo e equitativo, dentro e fora de casa, é o alicerce para uma convivência verdadeira e respeitosa.